Se você gosta de frequentar bibliotecas — ou mantém uma coleção de livros em casa —, deve ter percebido que muitos dos volumes, especialmente os mais velhos, têm folhas amareladas. O mesmo processo ocorre com as páginas de jornal que, quando compramos são mais branquinhas e, com o passar do tempo, ganham aquela típica coloração de papel velho, e muito mais depressa do que acontece com os livros. Mas por que é que isso acontece?
Quem responde a essa pergunta é Matt Blitz do sensacional site Today I Found Out, que sempre publica artigos superinteressantes sobre as mais variadas dúvidas existenciais — como essa do papel amarelado. Aliás, enquanto esclarece essa questão, Matt nos leva a uma verdadeira viagem pela história do papel!
Da Ásia para o mundo
Segundo Matt, existe um consenso sobre o papel ter sido inventado na China por volta de 100 a.C. e, em sua primeira “versão”, ele era feito a partir do cânhamo, que era umedecido e transformado em polpa antes de virar uma página. Logo o bambu, casca de árvores e outras fibras vegetais também começaram a ser empregadas.
Em um primeiro momento, o papel era usado apenas na confecção de documentos oficiais, mas conforme o processo de produção foi se tornando mais eficiente e barato, a novidade se espalhou por toda a Ásia. De acordo com Matt, o material só foi chegar à Europa por volta do século 11, e o exemplar mais antigo de que se tem notícia é um missal descoberto na Espanha, cujas páginas são feitas a partir de uma espécie de linho.
E o papel continuou sendo produzido a partir de fibras como o linho e o algodão até meados do século 19, quando ele começou a ser fabricado com fibras de madeira. E isso foi um enorme avanço, já que a nova matéria-prima era muito mais abundante do que os materiais usados anteriormente, barateando o processo de fabricação. Em apenas 30 anos, o papel feito de polpa de celulose acabou se tornando o líder do mercado.
A culpada
Apesar de ser muito mais barato e tão durável quanto as opções feitas com fibra de linho e algodão, o papel feito de celulose é muito mais facilmente afetado pela ação dos raios solares e contato com o oxigênio. Segundo Matt, a celulose — que, juntamente com a lignina, é um dos principais componentes da madeira — é tecnicamente incolor e capaz de refletir muito mais luz do que absorvê-la, o que, aos nossos olhos, a torna branca e opaca.
Entretanto, a celulose é propensa a sofrer oxidação — processo que provoca a perda de elétrons e o enfraquecimento do material —, e como resultado, parte da luz que incide sobre ela acaba sendo absorvida, tornando o material menos branco e vibrante. Mas essa não é a causa de o papel se tornar amarelado com o tempo... a culpa é da lignina.
De acordo com Matt, basicamente, a lignina funciona como uma espécie de cola que mantém as fibras de celulose coesas. Ela é a substância que confere à madeira sua força e dureza e, sem esse componente, as árvores não poderiam crescer mais do que 1,8 metro de altura. E a lignina possui uma coloração natural puxada para o marrom escuro — e é muito mais propensa à oxidação do que a celulose.
Oxidação
A exposição aos raios solares e ao oxigênio provoca alterações na estrutura molecular da lignina, afetando a maneira como esse material absorve e reflete a luz. Por essa razão, esse material vai se tornando escurecido. Voltando ao assunto das páginas, como o papel usado para a impressão de jornais é menos processado e barato do que o usado nos livros, a tendência é de que ele contenha mais lignina em sua composição.
Além disso, as folhas de jornal costumam ficar mais expostas ao ambiente do que as páginas de livros, e é por isso que o processo de “amarelamento” é rápido e mais pronunciado em um do que no outro. Já o papel usado em livros tende a ser de melhor qualidade e passar por processos de branqueamento mais intensos, nos quais boa parte da lignina é eliminada. Assim, apesar de a oxidação também acontecer neste caso, o processo de escurecimento das folhas é mais lento.
Assim, para evitar que a deterioração ocorra tão depressa, atualmente muitos documentos estão sendo produzidos em papel alcalino, com um conteúdo mais reduzido de lignina. No caso dos materiais cujas páginas já sofreram escurecimento, embora seja impossível reverter o dano, é possível frear um pouco seu progresso guardando esses materiais em locais com pouca umidade, frescos e longe da luz.